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O Setorial de Transportes do PT nasceu junto com o Partido dos Trabalhadores. O objetivo sempre foi o de fomentar políticas públicas para o transporte coletivo e logística para distribuição de mercadorias. Estamos abrindo esse espaço para ampliar a discussão sobre o tema.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O Minhocão que assusta o Morumbi

O monotrilho - espécie de trem com rodas em via suspensa - deve chegar em 2013 e já deixa moradores com o cabelo em pé

Muitos moradores do Morumbi, na Zona Oeste, estão com medo de em breve dormir nesse que é um dos bairros mais nobres de São Paulo e acordar na Av. São João, no Centro - área nem tão nobre assim.


O motivo é a obra que o governo do estado pretende acabar até 2013: o monotrilho Jabaquara-Morumbi, uma espécie de metrô suspenso que já ganhou o apelido de "Minhocão do Morumbi" - numa referência ao "Minhocão" original, a via suspensa que corre por cima da Av. São João e, pela feiúra, virou um cartão postal negativo de São Paulo.

"Esse monotrilho é um completo absurdo", dispara Júlia Titz, presidente do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) do Morumbi, uma das associações de moradores mais atuantes do bairro e que, como toda a população paulistana, faz questão de ressaltar a importância do Metrô para a cidade - mas que vê no monotrilho uma aberração. "Vamos continuar lutando para barrar esse projeto. Até porque daqui a pouco teremos uma linha do Metrô ali na esquina", diz, referindo-se à estação São Paulo-Morumbi, da linha 4-Amarela.

Para conseguir interceptar o monotrilho, os moradores do Morumbi terão que correr, do contrário daqui a dois anos poderão ter como vista de suas janelas um monstrengo de concreto de 15 metros de altura que além de atrapalhar a paisagem, poderá desvalorizar os imóveis a seu redor.

Previsões apontam que um apartamento no meio do caminho do monotrilho poderá perder até 20% do preço atual.

E também entram nessa conta as inevitáveis desapropriações para o levantamento da via e das paradas, além do burburinho em torno de cada estação e das perdas ambientais - como árvores de ruas e praças.

Quando fala do monotrilho que os moradores que representa pretendem barrar, Júlia está citando a parte da via suspensa que se estenderá por seu bairro - afinal, a obra é muito maior. É um projeto do governo, mais especificamente do Metrô, que terá como ponto inicial o Jabaquara, na Zona Sul, e passará por pontos como o Aeroporto de Congonhas.

"Será horrível"

Até agora, só os moradores do Morumbi estão protestando contra o monotrilho - pelo menos de forma mais sonora. "Vai ficar horrível", critica a secretária de laboratório atmosférico da Faculdade de Medicina da USP Maria Dalva Gomes Santana, que mora num dos principais focos do monotrilho no Morumbi, a Av. Jorge João Saad, e teme o novo Minhocão.

Com o marido e os dois filhos, ela já se acostumou com a vista, e o sossego, que tem à frente da sacada de seu apartamento, no 5º andar. "Vamos perder isso. E o preço do imóvel deverá mesmo cair muito. Quem vai arcar com o prejuízo?"

Para muitos especialistas, "busão aéreo" é lento demais

O monotrilho é uma fusão de dois meios de transporte público - metrô e ônibus. Ele corre em trilho, mas tem pneus, em geral escondidos pela carcaça dos vagões. Os pneus não podem se movimentar fora da guia na pista. E mais: diferentemente da maior parte da malha do metrô, que é subterrânea, o monotrilho é suspenso. Muitos especialistas veem com reserva a eficácia dele, ainda que o tempo necessário para a obra da via suspensa seja de aproximadamente de 2 anos e meio, três vezes menos que o de uma linha de metrô e, portanto, uma opção mais barata.

Para eles, isso não é um grande benefício, já que o monotrilho é um transporte muito lento e com capacidade restrita de passageiros. E mais: por não ter rota de passagem, se um vagão apresentar defeito no percurso, interromperá o fluxo até ser consertado. Com base nisso tudo, Júlia Titz, a presidente do Conseg, afirma: "A médio e longo prazos, caso seja mesmo construído, ficará evidente que o monotrilho é uma obra desnecessária no Morumbi e na cidade como um todo".

Além dos especialistas em transporte, de Júlia e de todos os que são contra a obra, há mais um apoio de peso contra ela. "É uma bobagem a céu aberto", decreta Luiz Paulo Pompéia, diretor da Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio (Embraesp), com sede em São Paulo. A Embraesp é uma das mais conceituadas empresas de pesquisa imobiliária do país, bastante ligada às questões urbanas como transporte e qualidade de vida, dois itens essenciais à equação de preços de um imóvel.

"O monotrilho vai desfigurar muitos bairros e mudar todo o panorama de quem mora neles, o que, evidentemente, inclui a desvalorização dos imóveis", diz Pompéia. Por essas e outras, ele se diz contrário ao projeto: "Será uma cicatriz esparramada por São Paulo."

Metrô diz que obra irá desafogar o trânsito da capital

A direção do Metrô considera a construção da via suspensa Jabaquara-Morumbi, que integra um conjunto de monotrilhos que deverá ser erguido pelo governo estadual, fundamental para aliviar o trânsito da cidade - e em particular do próprio Morumbi.

Foi com esse argumento que o governador Alberto Goldman sancionou o projeto de lei autorizando financiamentos para as obras de construção da "Linha 17-Ouro" - como o monotrilho que chegará ao lado da estação -Morumbi-São Paulo do Metrô é tecnicamente conhecido.

Está prevista uma audiência pública na Assembleia Legislativa no mês que vem para explicações mais detalhadas à população sobre a obra. Ela faz parte do Programa de Expansão, que de acordo com o governo paulista, é o maior investimento já realizado no setor, atingindo R$ 23 bilhões.

Com a nova rede de trens, o governo pretende criar conexões que possibilitem ao usuário se deslocar na região metropolitana a partir de qualquer ponto do sistema da rede Metrô-ferrovias.

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